sexta-feira, 30 de julho de 2010

Afastar, Sortear, Nascer


Elas trabalham durante o dia, quando o sol osfuca suas mãos e seus dedos hábeis. Costuram com os olhos atentos fitando, para dentro, com pupilas paralizadas. O corpo se move e elas permanecem olhando para o mesmo ponto. Atravessa e perpassa agulhas (Láquesis), dedos, costura (Clotes) e cortes (Átropos).

Durante a noite fecham os olhos e cobrem o céu com seu tecido, os pontos e sentidos estao lá escritos, brilhantes. Tecido sobre tecido, escrita sobre escrita, costura sobre costura. Os sentidos todos permanecem emaranhados, forrados por cima de nossas cabeças e de nossos pensamentos.

Nossas pupilas as vezes os devoram com voracidade e vontade, as vezes devoram detinos que não são nossos. Normlamente, contra sua propria naturalidade e a favor de sua propria habilidade inata, as pupilas enxergam com facilidade o que não pertence aos relevos de seus próprios olhos.

Parcas adormecidas sonham os pensamentos dos homens que anseiam, quase desesperadamente e desapercebidamente, encontrar em qual costura e ponto está escrita sua própria vida. Mas as parcas escrevem sobre homens e não sobre homem.

Certa vez criança curiosa, atravessando cavernas escuras, na procura de encontrar sua sombra, viu um globo coberto e tres mulheres adormecidas. Entre os dedos delas havia uma agulha fina, quase despercebida, dourada e prateada, capaz de cortar o fio da noite com reflexos da luz do dia e fazer estrelas naquele tecido escuro. Apaixonado por estrelas aproximou-se e tocou o céu da noite com a pele, o tecido deslizou pelo aparente frágil globo que mostrava sua grandiosidade e sua fragilidade graciosa. Ficou hipnotizado, com os olhos fixos, com as pupilas paralizadas, permanecendo olhando para o mesmo ponto. Assustou-se entao repentinamente com o movimento vivo e natural que se fazia. As parcas acordavam, e de subito espetou-se na agulha. Seu sangue não escorreu, mesclou-se ao dourado do dia que perfurava e escrevia no tecido da noite. Correu assustado das maos magras finas e rapidas, que se movimentamvam quase que automaticamente. Correu e, em um olhar exitante e perplexo, viu sua sombra ao canto do globo coberto. 

Hoje vive à sombra do mundo e a cada movimento, costura e corte, seu sangue se move orientado-se a sentido dos sonhos dos homens. Desorientando-se na busca de sua sombra, sua própria noite.


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