quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sol, lua e eclipse.


Você me deixa olhar seus olhos

mesmo que distante

Me perder entre os relevos aveludados de sua iris

Onde estão marcadas as impressoes de seus ancestrais

Trazer a tona em minha temperatura

O sentimento na carne, pulsante

Onde o sangue se torna expressão viva de minhas palavras

Deslizar os lábios por suas costas

e sua nuca

Segurar-te por perto sem te prender

Nós dois

eu e você

tocando o silêncio

Onde nada está calado.

Onde tudo diz desnudando qualquer palavra possível

Deixando ao corpo a expressão do impossível.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Afastar, Sortear, Nascer


Elas trabalham durante o dia, quando o sol osfuca suas mãos e seus dedos hábeis. Costuram com os olhos atentos fitando, para dentro, com pupilas paralizadas. O corpo se move e elas permanecem olhando para o mesmo ponto. Atravessa e perpassa agulhas (Láquesis), dedos, costura (Clotes) e cortes (Átropos).

Durante a noite fecham os olhos e cobrem o céu com seu tecido, os pontos e sentidos estao lá escritos, brilhantes. Tecido sobre tecido, escrita sobre escrita, costura sobre costura. Os sentidos todos permanecem emaranhados, forrados por cima de nossas cabeças e de nossos pensamentos.

Nossas pupilas as vezes os devoram com voracidade e vontade, as vezes devoram detinos que não são nossos. Normlamente, contra sua propria naturalidade e a favor de sua propria habilidade inata, as pupilas enxergam com facilidade o que não pertence aos relevos de seus próprios olhos.

Parcas adormecidas sonham os pensamentos dos homens que anseiam, quase desesperadamente e desapercebidamente, encontrar em qual costura e ponto está escrita sua própria vida. Mas as parcas escrevem sobre homens e não sobre homem.

Certa vez criança curiosa, atravessando cavernas escuras, na procura de encontrar sua sombra, viu um globo coberto e tres mulheres adormecidas. Entre os dedos delas havia uma agulha fina, quase despercebida, dourada e prateada, capaz de cortar o fio da noite com reflexos da luz do dia e fazer estrelas naquele tecido escuro. Apaixonado por estrelas aproximou-se e tocou o céu da noite com a pele, o tecido deslizou pelo aparente frágil globo que mostrava sua grandiosidade e sua fragilidade graciosa. Ficou hipnotizado, com os olhos fixos, com as pupilas paralizadas, permanecendo olhando para o mesmo ponto. Assustou-se entao repentinamente com o movimento vivo e natural que se fazia. As parcas acordavam, e de subito espetou-se na agulha. Seu sangue não escorreu, mesclou-se ao dourado do dia que perfurava e escrevia no tecido da noite. Correu assustado das maos magras finas e rapidas, que se movimentamvam quase que automaticamente. Correu e, em um olhar exitante e perplexo, viu sua sombra ao canto do globo coberto. 

Hoje vive à sombra do mundo e a cada movimento, costura e corte, seu sangue se move orientado-se a sentido dos sonhos dos homens. Desorientando-se na busca de sua sombra, sua própria noite.


terça-feira, 27 de julho de 2010

Ponte a Ponto


As cores

Deveriam girar todas

para frente e para tras

a pele precisa de mais magenta

para parecer real

Se nao tiver cor de sangue

fica pálida

Depois vamos centrifuga-las

Para ver qual delas fica mais a superficie

e qual delas voaria mais facil

Acho que as cores do pensamento ficariam para fora

e as do sentimento para dentro

Mas elas sempre estariam girando, de traz(er) para frente

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ex pírito.




Pensei que nunca te veria novamente.

Minhas pupilas encararam as chamas me invadindo em frente ao espelho, corpo sólido da água.

Afogado em mim quiema imortal todos os elementos criando vida e movimentando os universos, conforme faz aquele que a todo momento conversa com os verbos dentro de si.

Passaram-se pouco tempo, eras e milenios. Dias perto de sua existencia.

Abriu suas plumas no céu escuro da noite rasgando a escuridao e brilhando como estrela em constante morte. Ainda é evidente as cinzas restantes em sua pele, algumas caem com o vento, outras afixaram-se de forma a te trazer a morte mais rapidamente.

Sempre renasce voce dentro de mim, fogo que devora minhas pupilas e cospe minha boca.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Es preguiçar





Acordar é uma reestruturaçao dos seus sonhos que começam a dormir.

É o momento de se reacostumar a ver a luz da realidade e apagar as luzes dos movimentos do que voce vê enquanto corpo morto.

Deixar eles dentro de um quarto escuro, se movendo por debaixo de lençóis de sombras onde voce sabe que estao vivos mas se deformam ao tentar concretizá-los.

Acordar é esticar o corpo morto, ressucitar após tres dias de vida plena ou pesadelos, tudo depende do que voce esconde ou se revela.

Acordar é retomar a sua noção que nunca se tem de identidade, fechar os olhos do que voce é para si e abrir os olhos para o que voce é para todos fora de si.

Acordar é caminhar para fora, onde devoram suas pupilas o que virá para dentro.

Acordar é adormecer os sonhos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Placenta



É leve

Presente na pele, me toca, líquido em que descanso

Durmo.

Em contraponto de universo fronteiriço, sonho.

Mas,

Mas busco posição em que me conforto e cresço. Encontro o limite.

É o céu? Vou rasgá-lo.

O que há lá fora? Preciso respirar.

Ar?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Paralelepidedos no muro.

O monstro que vive em mim é uma criança aprisionada em jaula.
Jaula é uma fortaleza inabalável.
Jaula de fera, de animal indomável.
Indomável.
Ela vive em fantasias e a escuridão lava as ruas.
As sombras se moldam conforme se movimenta, conversa, toca a sua matéria.
Os olhos, choram e cerram. Em qualquer ameaça permanece.
Está, indomável.

é melhor você não correr nessa rua de paralelepipedos, você vai tropeçar.
é melhor você não dormir, você vai enxergar.
é melhor você não pensar, você vai sonhar.
é melhor?

Dentro de mim cabe tudo, menos eu.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A firmo.

Não quero fazer expressao de lágrimas, nem menos falar a voz daquele conhecido silencio que grita.
Não quero escutar o que posso ouvir, nem menos esculpir entre os dedos os escritos de uma alma.
Não quero mais ver que dentro de si pode existir aquele sentido, aquele sentido que normalmente não se sente.



Não quero negar nada disso. Não quero dizer não.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sentidos sentidos.


Sobretudo a todas as visões que não tive e que tiveram por mim, fechei os olhos.
E os pensamentos que não pensei, tapei os ouvidos.
E os tatos que sonhei, toquei-me à própria pele.
E o paladar que me descreveram, salivei as palavras.
E o que não vi e imaginei, fechei os olhos.
E do sentir o que é.

                                   Quem somos? 
Um resumo de anos de existencia.